No dia 21 de julho, entrevistamos o senhor Adalberto Cavalcante, pertencente a uma família de antigos moradores, pioneiros no ramo de hotelaria em Rondon do Pará. Lembrou que quando ele e a molecada saia do Cine Ideal, depois de uma sessão de filme de karatê, podia contar que no trajeto de volta para casa “era menino dando golpes a torto e a direita pela rua” , contou-nos, em meio a sorrisos, seu Adalberto.
Nas memórias afetivas dos antigos moradores percebemos o quanto o Cine Ideal era importante na vida das pessoas. Imagine que, em 1972, quando foi inaugurado, Rondon era apenas uma vila formada por migrantes em torno de uma estrada, hoje a BR-222. Ir ao cinema era uma das raras atividades de lazer que colocava o espectador em contato com outros mundos. O passeio ao Cinema é relatado por uma antiga moradora, como um momento de lazer para a família, um instante de ruptura na rotina cotidiana.
Até onde sabemos no momento, o Cine se manteve em atividade até final dos anos 80. Quando foi fechado, ficou um vazio… Para onde foram seus frequentadores? O que tomou o lugar do Cine Ideal? O que passou a atrair os indivíduos para um mesmo local de convivência, onde a produção artística nacional e mundial era propagada? Teria sido preenchido esse espaço pelas novas formas de comunicação e entretenimento tais como a TV, o vídeo cassete, os games dentre outras? Essas e outras indagações estarão na pauta do projeto Cine Ideal.
O doc vai misturar vídeo com ilustração: as histórias contadas pelos frequentadores e ex-funcionários do Cine vão virar desenhos criados pelos artistas locais. A ideia é reconstituir episódios, pessoas e cenários que já não são acessíveis por fotografias e outras formas de registro. As fotos reavivam as memórias, mas nesse caso, faremos o movimento contrário, transformaremos as memórias em imagens.
Mas, também, usaremos na construção do roteiro, os testemunhos dos entrevistados e outros registros documentais e poéticos que formos “garimpando” ao longo da pesquisa. Até mesmo a paisagem sonora do doc, pensamos em construí-la a partir de uma releitura de um jingle característico dos filmes de faroeste, muito comuns na programação do Cine na época.
Em abril/2015, o antigo gerente do Cine Ideal, Almir de Souza, que reside nos EUA, esteve em Rondon. Mas, olha só que coincidência, exatamente no momento em que estávamos escrevendo o projeto para o Edital, surge esta grata surpresa. Então, fizemos com ele a primeira entrevista sobre a sua experiência frente ao cinema. Curiosidades, dificuldades, motivos do fechamento, situações inusitadas. Almir revelou detalhes do funcionamento do local.
Foi interessante ficar sabendo que, além de ser uma sala de cinema, o prédio abrigava shows musicais e, eventualmente, peças teatrais. O sistema de som externo, conhecido popularmente como boca de ferro, era também usado como um veículo de utilidade pública, onde eram feitos anúncios de reuniões, velórios e casamentos. Inclusive, Almir teve seu primeiro encontro amoroso com sua futura esposa, Valba de Souza, em uma das sessões do Cine Ideal.
Em Rondon do Pará, a memória de um cinema de rua – o Cine Ideal (já extinto) – fundado no início dos anos 70, ainda sobrevive nas memórias afetivas de seus antigos frequentadores e ex-funcionários. Embora, os registros documentais da existência do Cine sejam escassos, ainda se mantêm na cidade, a edificação que sofreu alterações ao longo do tempo e, nos dias atuais, abriga uma igreja evangélica.
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