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Cartaz Cine Ideal-01 (1)

Lançamento do Doc na Casa das Artes em Belém.

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Ricardo D’Almeida após a exibição do “Cine Ideal” no auditório da Casa das Artes em Belém (foto: Marlos Monteiro)

Durante o lançamento do documentário “Cine Ideal: memórias de um cinema de rua de Rondon do Pará”, em 06 de abril de 2016 no auditório da Casa das Artes em Belém.
O doc é o resultado da bolsa de criação e experimentação artística da Fundação Cultural do Pará da qual fui contemplado em 2015.
Após a exibição, o público presente interagiu com perguntas e comentários.
A forma como o doc foi recebido foi muito especial.
O mérito é de cada um dos entrevistados, frequentadores, ex-funcionários do cine e de todos os envolvidos na realização deste filme. Especialmente a dona Ivani e dona Lulu, viúva e filha de José Monteiro (em memória), o homem que, no inicio os anos 70 do século XX construiu uma sala de cinema com a com 486 lugares na então Vila Rondon, um pequeno povoado na Amazônia brasileira. Um lugar que não chegava a contar com ifraestrutura básica de energia elétrica, água ou saneamento básico, teve no Cine a possibilidade de acumular tão ricas memórias que o doc teve a chance de guardar.

Reta final

Editando aqui o doc, nesta madrugada de 10 de março de 2016. As coisas se misturam na cabeça, as imagens destes meses envolto nesta grata missão de pesquisar o universo em torno do Cine Ideal.

São horas de gravações com pessoas que frequentaram e trabalharam no Cine. A tarefa mais difícil, penso, é exatamente esta que estou executando neste momento: editar, cortar pedaços, escolher entre os diversos entrevistados e as dezenas de histórias (todas relevantes), aquelas que vão entrar na versão final do documentário, e são apenas 20 minutos.

Dói ter que fazer estas inúmeras escolhas. A cada passo na montagem do filme, cortar, retirar, excluir o que não vai ser visto nem ouvido por aqueles que vierem a assistir as memórias destes personagens tão especiais que fizeram parte deste UNIVERSO chamado Cine Ideal, um universo que teve um lugar no tempo e no espaço, durante quase duas décadas ali na esquina da Rua Minas Gerais com a Rua 1° de Maio. O Cine não existe mais, mas ele ainda ecoa nos anos e deve ecoar ainda mais, quando o filme, enfim, alcançar o seu objetivo, que é ser visto, comentado, discutido, criticado, revisto.

Mas ainda temos este período para cumprir, esta tarefa difícil e gostosa de fazer este documentário estar pronto e disponível para todos.

Um poema de Joseilson Meireles

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Maquete do Cine Ideal feita por Simone Jares.

“Em 1972 foi o cinema
A primeira diversão que chegou,
De quem era e nome dado
Ninguém me lembrou,
Só se sabe que no lugar do posto Rondon.
Num galpão, uma boca de alto-falante se instalou.
Tinha duas sessões, se o filme era pornô,
Para as a primeira sessão.
Era ordem do delegado Nego Mendes,
Na porta, os soldado: Joaquim e Luizão.
O Sargento Zé Maria e soldado Elói,
Na vez dos homens, pra não dar confusão.
Mais tarde Zé Monteiro
Comprou a instalação
Fez uma nova estrutura
E mudou sua localização
Na rua 1º de maio
Fez a inauguração.
“- Django veio para matar,
Com Tony Vieira…
Leve a carteira de identidade
De menor não pode entrar.,,”
Era a voz do cinema,
Alguém ouviu anunciar”

‘OS PRIMEIROS CINEMAS’

Prof. Joseilson Meireles

O porão do Cine Ideal

porãoHoje foi um dia especial na produção do doc. Após um tempo conversando com o Pastor Donizete, da Igreja Batista Nacional Missionária, proprietária do prédio do antigo Cine Ideal, o pastor nos autorizou fazer algo que poderíamos chamar de uma incursão arqueológica.

Através de um pequeno buraco na parece dos fundos do prédio, tivemos acesso ao interior de um porão que estava completamente selado, sem portas, sem janelas ou entradas de ar, por cerca de 23 anos.

Tínhamos fortes indícios testemunhais de que ali dentro se encontravam peças, talvez os antigos projetores, geradores de energia e, deixando a imaginação fluir mais um pouquinho, rolos de filmes, fotografias antigas, diversas memórias da época.

Entramos: ambiente escuro, quente, muito quente e abafado. As lentes da máquina filmadora embaçaram… e la dentro, sabe o que encontramos??!!

Saberão todos assim que fizermos o lançamento do doc, provavelmente no início do ano de 2016.

O doc é resultado da Bolsa de Criação, Experimentação, Pesquisa e Divulgação Artística 2015 da FCP – Fundação Cultural do Estado do Pará a qual fomos contemplados.

Agradecemos ao pastor Donizete e ao Tião Puro, nosso amigo que fez o buraco e depois selou novamente.

Sorveteria Jandaia – A sorveteria do Juvenal

Juvenal era proprietário da Sorveteria Jandaia.
Juvenal era proprietário da Sorveteria Jandaia.

Em todas as gravações realizadas até o momento, todos os entrevistados mencionam com saudades a sorveteria do Juvenal. A famosa Sorveteria Jandaia.

O Cine Ideal e a Sorveteria Jandaia formavam uma dupla de sucesso. Os frequentadores do Cine relatam que sempre, antes ou depois do filme, era “obrigatório” comer uma salada de frutas ou tomar uma “vaca preta”, que é uma mistura de Coca Cola com sorvete de coco.

Durante alguns anos, era o gerador de energia da sorveteria que fornecia eletricidade para que o cinema funcionasse. Segundo Juvenal, a parceria era muito saudável, pois os dois estabelecimentos viviam uma espécie de simbiose, um gerando clientes para o outro.

Pouco tempo depois do fechamento do Cine Ideal, a Sorveteria Jandaia também encerrou as atividades. Naquela época, final dos anos 1980, a Rua 1°de Maio, esquina com Rua Minas Gerais, que concentrava a nata do entretenimento na cidade, já dava fortes sinais de declínio. Boates, bares, cinema e pizzaria se fecharam. O núcleo do entretenimento na cidade migrou, principalmente, para a Avenida Marechal Rondon.

Reacílvio desenhava cartazes de divulgação do Cine Ideal

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Reacílvio criou diversos personagens, alguns já publicados em HQ

Reacilvio Neres é desenhista e designer gráfico. Na sua adolescência, por volta do ano de 1989, ele foi convidado pelo então gerente do Cine Ideal, Marconi Santos, para fazer cartazes de divulgação. Os cartazes especificavam os horários e os dias dos filmes.

Como pagamento pelo serviços, Reacilvio recebia em troca o direito de assistir aos filmes no cinema. Esta parceria durou por cerca de 3 anos.

Um herói que salvou um tesouro do esquecimento

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Os rolos de filmes estão com Dionísio há mais de duas décadas.

No trabalho de pesquisa do doc, chegamos a Dionísio Almeida e tivemos uma incrível surpresa. Podemos considerar Dionísio, também conhecido como “O gostador de Rondon”, um herói dos tempos contemporâneos.

Em meados da década de 1990, quando estava à frente do Departamento de Cultura da cidade, ele se deparou com um conjunto de latas de rolos de filmes 35mm abandonados, os quais faziam parte do acervo do Cine Ideal. Num gesto de extrema sensibilidade, Dionísio guardou o que são hoje, provavelmente, os únicos filmes remanescentes do Cinema. De acordo com Dionísio, os rolos estavam jogados no chão da sala de projeção, prestes a terem como destino a lata de lixo.

Nos rótulos das latas de rolos salvas, é possível ver a marca de 2 distribuidores da época: FW Campos & CIA e Argus LTDA. O estado de conservação de alguns dos rolos é satisfatório, apesar do tempo guardado, mais de duas décadas.

Vídeo – Trechos da entrevista com Almir de Souza

Trechos da entrevista com Almir de Souza, antigo funcionário do Cine.

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